"Como nossa percepção de beleza ficou tão distorcida?"
A busca por um ideal de beleza faz parte da vida das pessoas. As mulheres, na maioria das vezes, são mais preocupadas com esta questão e há décadas tentam seguir os padrões que mudam constantemente, pois o conceito de beleza não é algo fixo, imutável. A definição do que se considera belo varia através dos tempos, e são diversos os fatores que contribuem para esse fenômeno: a influência das musas do cinema, a moda, a revolução dos valores e costumes da sociedade, o surgimento do feminismo etc. Até mesmo as duas grandes guerras que a humanidade enfrentou acabaram alterando, cada uma à sua época, o padrão de beleza vigente.
Entre as décadas de 40 e 50, o corpo cheio de curvas das pinups - garotas que posavam para calendários - tornou-se moda, principalmente pelo sucesso de Marilyn Monroe. As formas roliças e generosas que essas moças exibiam foram saldo da Segunda Guerra Mundial (1940-1945): depois dos tempos difíceis, a abundância e a fartura eram o desejo da população, e isso se estendeu também ao corpo das mulheres. Os anos 60 também chegaram trazendo novidades, que logo se estenderam à moda. O crescimento do movimento feminista, que culminou com a queima de sutiãs em praça pública, contribuiu para o sucesso das magrinhas "tipo tábua", como a famosa modelo inglesa Twiggy. Essa tendência foi se intensificando nos anos seguintes, e culminou na década de 80, quando o culto à magreza atingiu seu auge. A mania das aulas de aeróbica nas academias de ginástica e o surgimento da lipoaspiração, em 1982, contribuíram para a moda dos corpos magros.
Mas foi no início da década de 90 que o mundo das passarelas e dos desfiles de moda popularizou-se com força total, devido principalmente à glamourização da vida das top models pela mídia. Com isso, as mulheres passaram a se inspirar nas modelos milionárias como ideal de beleza. E havia lugar para tudo: desde as curvas de Cindy Crawford até o visual anoréxico de Kate Moss. Essa década trouxe ainda outra novidade: as próteses de silicone para os seios, antes consideradas cancerígenas, foram absolvidas após inúmeras pesquisas, e caíram no gosto da mulherada. No Brasil, uma das precursoras dos seios tamanho GG foi Joana Prado, que logo foi seguida por Carla Perez, Daniele Winits, Suzana Alves, Scheila Carvalho e Sheila Mello, entre outras.
O padrão de beleza atual está relacionado às celebridades mais comentadas do momento, como Daniela Cicarelli e Gisele Bündchen, por exemplo, pois as pessoas sempre seguem o padrão estabelecido pela mídia desde que a comunicação de massa passou a ditar efetivamente as "regras" a serem seguidas. Notamos assim, que através dos séculos as mulheres sempre tiveram um ideal de beleza para se inspirar. É natural até mesmo encarar um regime, academia ou mesmo cirurgia plástica para ficar mais próxima a esse ideal. Porém, isso pode ser perigoso se não houver bom senso, pois cada mulher possui uma estrutura corporal diferente e não adianta querer mudar isso.
Altas, esbeltas e jovens, as modelos representam ideais de beleza inalcançáveis para a maioria das mulheres. Elas são consideradas símbolos da beleza feminina pelas mais importantes publicações de moda do mundo. È comum abrir as páginas da revista Vogue, por exemplo, e se deparar com beldades de 1,80m de altura e ínfimos 50kg – um padrão impensável para as leitoras. Além disso, a magreza das modelos está presente também no cinema, na televisão, nos outdoors e em quase todos os lugares. Ainda assim, a maioria delas não está satisfeita com o próprio corpo. Uma pesquisa sobre auto-imagem realizada com 140 modelos acima de 18 anos, no final de 2003 e início de 2004, mostrou que a insatisfação corporal atinge 100% das entrevistadas.
Essa busca incessante por uma magreza absurda, além de outros fatores, como traços da personalidade, acabam levando a pessoa a adquirir doenças de cunho psicológico, como a anorexia e a bulimia, distúrbios alimentares que têm , nos últimos anos, dado o que falar entre a comunidade médica, imprensa e sociedade em geral, que há mais de um século sofre com esse mal. A anorexia e a bulimia foram amplamente divulgadas quando, há cerca de vinte anos, a falecida Lady Di, então princesa de Gales, começou a apresentar de uma hora para a outra, uma magreza impressionante, que chamou a atenção para o que poderia estar provocando aquele aspecto doentio na princesa. Desde então, o mundo vem discutindo como vencer esse problema, que já fez milhares de vítimas, a maioria jovens meninas que sonham em ser uma Gisele Bündchen. No Brasil, estima-se que, para cada dez casos de anorexia, há uma vítima fatal.
Algumas campanhas já estão sendo realizadas pelo mundo inteiro para tentar minimizar o número de possíveis vítimas de anorexia. Um grande evento madrilense de moda, a passarela Cibeles, em sua última edição, surpreendeu a todos ao excluir as modelos magras demais por insultar à anorexia. Essa iniciativa foi criticada pelos profissionais do setor, mas aplaudida pelos médicos que vêem nela uma forma de combate aos distúrbios alimentares. Para a seleção das modelos, foi feito o cálculo do IMC ( índice de massa corporal - relação entre peso e altura) de cada uma delas. As que obtiveram o resultado inferior a 18, limite abaixo do qual a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que uma mulher não goza de boa saúde, foram desaprovadas. Autoridades ligadas à área de saúde, por diversas vezes, tentaram impedira a veiculação de campanhas publicitárias com mulheres muito magras nos veículos de comunicação, alegando que esse tipo de propaganda é nociva à sociedade, na medida em que, ao perceber qual o padrão de beleza exigido pela mídia, muitas mulheres começam a busca por um corpo que, para elas, é impossível de atingir, devido a vários fatores como massa corpórea, estrutura óssea, entre outros.
Campanhas para a valorização dos diversos tipos de beleza, e não de um modelo físico padrão, também estão sendo veiculadas. A Dove, grande marca de cosméticos, já fez anúncios com fotos de moças gordinhas para vender creme contra a flacidez , já que "deixar mais firme o corpo tamanho 34 de uma supermodelo não é nenhum desafio", como dizia o slogan, e propaganda de TV com mulheres na praia, com curvas completamente diferentes, cicatrizes e marcas na pele. Agora, a empresa produziu um vídeo que mostra uma moça comum se transformar – depois de quilos de maquiagem, cabeleireiro e photoshop - numa dessas beldades perfeitas que vemos nas fotos de propagandas de xampú, hidratante, batom e perfume. Ao olhar a protagonista do vídeo, fica claro como o padrão que tanto faz sofrer a maioria das mulheres pode ser pura invenção. A moça que estrela o vídeo da "transformação" seria considerada bonita em qualquer lugar fora de um estúdio fotográfico ou passarela. Mas não é páreo para a sua versão "top model". Simplesmente porque essa versão não existe, foi construída por computador, laquê e muita maquiagem. "Toda garota merece sentir-se bonita do jeito que ela é", diz a mensagem no final da propaganda, numa tentativa de reverter um pouco os males da lavagem cerebral feita por anos e anos pela publicidade.
Portanto, por todos esses motivos descritos ao longo desse texto, é que precisamos reconhecer e aceitar o nosso corpo e a nós mesmas da maneira que somos, com nossos defeitos e qualidades, e não passar a vida inteira almejando por algo inalcançável, e que, de uma forma ou de outra, é pura ilusão, pois como diz Tommaso, psicólogo e psicoterapeuta que já atendeu mais de mil modelos, "Não adianta todo mundo querer ser como a Gisele Bündchen, ela é uma exceção". E, afinal, a única coisa que conta é a 'embalagem'? Será que o conteúdo e a essência não são mais importantes?
Assista ao video da campanha Dove pela Real Beleza
A busca por um ideal de beleza faz parte da vida das pessoas. As mulheres, na maioria das vezes, são mais preocupadas com esta questão e há décadas tentam seguir os padrões que mudam constantemente, pois o conceito de beleza não é algo fixo, imutável. A definição do que se considera belo varia através dos tempos, e são diversos os fatores que contribuem para esse fenômeno: a influência das musas do cinema, a moda, a revolução dos valores e costumes da sociedade, o surgimento do feminismo etc. Até mesmo as duas grandes guerras que a humanidade enfrentou acabaram alterando, cada uma à sua época, o padrão de beleza vigente.
Entre as décadas de 40 e 50, o corpo cheio de curvas das pinups - garotas que posavam para calendários - tornou-se moda, principalmente pelo sucesso de Marilyn Monroe. As formas roliças e generosas que essas moças exibiam foram saldo da Segunda Guerra Mundial (1940-1945): depois dos tempos difíceis, a abundância e a fartura eram o desejo da população, e isso se estendeu também ao corpo das mulheres. Os anos 60 também chegaram trazendo novidades, que logo se estenderam à moda. O crescimento do movimento feminista, que culminou com a queima de sutiãs em praça pública, contribuiu para o sucesso das magrinhas "tipo tábua", como a famosa modelo inglesa Twiggy. Essa tendência foi se intensificando nos anos seguintes, e culminou na década de 80, quando o culto à magreza atingiu seu auge. A mania das aulas de aeróbica nas academias de ginástica e o surgimento da lipoaspiração, em 1982, contribuíram para a moda dos corpos magros.
Mas foi no início da década de 90 que o mundo das passarelas e dos desfiles de moda popularizou-se com força total, devido principalmente à glamourização da vida das top models pela mídia. Com isso, as mulheres passaram a se inspirar nas modelos milionárias como ideal de beleza. E havia lugar para tudo: desde as curvas de Cindy Crawford até o visual anoréxico de Kate Moss. Essa década trouxe ainda outra novidade: as próteses de silicone para os seios, antes consideradas cancerígenas, foram absolvidas após inúmeras pesquisas, e caíram no gosto da mulherada. No Brasil, uma das precursoras dos seios tamanho GG foi Joana Prado, que logo foi seguida por Carla Perez, Daniele Winits, Suzana Alves, Scheila Carvalho e Sheila Mello, entre outras.
O padrão de beleza atual está relacionado às celebridades mais comentadas do momento, como Daniela Cicarelli e Gisele Bündchen, por exemplo, pois as pessoas sempre seguem o padrão estabelecido pela mídia desde que a comunicação de massa passou a ditar efetivamente as "regras" a serem seguidas. Notamos assim, que através dos séculos as mulheres sempre tiveram um ideal de beleza para se inspirar. É natural até mesmo encarar um regime, academia ou mesmo cirurgia plástica para ficar mais próxima a esse ideal. Porém, isso pode ser perigoso se não houver bom senso, pois cada mulher possui uma estrutura corporal diferente e não adianta querer mudar isso.
Altas, esbeltas e jovens, as modelos representam ideais de beleza inalcançáveis para a maioria das mulheres. Elas são consideradas símbolos da beleza feminina pelas mais importantes publicações de moda do mundo. È comum abrir as páginas da revista Vogue, por exemplo, e se deparar com beldades de 1,80m de altura e ínfimos 50kg – um padrão impensável para as leitoras. Além disso, a magreza das modelos está presente também no cinema, na televisão, nos outdoors e em quase todos os lugares. Ainda assim, a maioria delas não está satisfeita com o próprio corpo. Uma pesquisa sobre auto-imagem realizada com 140 modelos acima de 18 anos, no final de 2003 e início de 2004, mostrou que a insatisfação corporal atinge 100% das entrevistadas.
Essa busca incessante por uma magreza absurda, além de outros fatores, como traços da personalidade, acabam levando a pessoa a adquirir doenças de cunho psicológico, como a anorexia e a bulimia, distúrbios alimentares que têm , nos últimos anos, dado o que falar entre a comunidade médica, imprensa e sociedade em geral, que há mais de um século sofre com esse mal. A anorexia e a bulimia foram amplamente divulgadas quando, há cerca de vinte anos, a falecida Lady Di, então princesa de Gales, começou a apresentar de uma hora para a outra, uma magreza impressionante, que chamou a atenção para o que poderia estar provocando aquele aspecto doentio na princesa. Desde então, o mundo vem discutindo como vencer esse problema, que já fez milhares de vítimas, a maioria jovens meninas que sonham em ser uma Gisele Bündchen. No Brasil, estima-se que, para cada dez casos de anorexia, há uma vítima fatal.
Algumas campanhas já estão sendo realizadas pelo mundo inteiro para tentar minimizar o número de possíveis vítimas de anorexia. Um grande evento madrilense de moda, a passarela Cibeles, em sua última edição, surpreendeu a todos ao excluir as modelos magras demais por insultar à anorexia. Essa iniciativa foi criticada pelos profissionais do setor, mas aplaudida pelos médicos que vêem nela uma forma de combate aos distúrbios alimentares. Para a seleção das modelos, foi feito o cálculo do IMC ( índice de massa corporal - relação entre peso e altura) de cada uma delas. As que obtiveram o resultado inferior a 18, limite abaixo do qual a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que uma mulher não goza de boa saúde, foram desaprovadas. Autoridades ligadas à área de saúde, por diversas vezes, tentaram impedira a veiculação de campanhas publicitárias com mulheres muito magras nos veículos de comunicação, alegando que esse tipo de propaganda é nociva à sociedade, na medida em que, ao perceber qual o padrão de beleza exigido pela mídia, muitas mulheres começam a busca por um corpo que, para elas, é impossível de atingir, devido a vários fatores como massa corpórea, estrutura óssea, entre outros.
Campanhas para a valorização dos diversos tipos de beleza, e não de um modelo físico padrão, também estão sendo veiculadas. A Dove, grande marca de cosméticos, já fez anúncios com fotos de moças gordinhas para vender creme contra a flacidez , já que "deixar mais firme o corpo tamanho 34 de uma supermodelo não é nenhum desafio", como dizia o slogan, e propaganda de TV com mulheres na praia, com curvas completamente diferentes, cicatrizes e marcas na pele. Agora, a empresa produziu um vídeo que mostra uma moça comum se transformar – depois de quilos de maquiagem, cabeleireiro e photoshop - numa dessas beldades perfeitas que vemos nas fotos de propagandas de xampú, hidratante, batom e perfume. Ao olhar a protagonista do vídeo, fica claro como o padrão que tanto faz sofrer a maioria das mulheres pode ser pura invenção. A moça que estrela o vídeo da "transformação" seria considerada bonita em qualquer lugar fora de um estúdio fotográfico ou passarela. Mas não é páreo para a sua versão "top model". Simplesmente porque essa versão não existe, foi construída por computador, laquê e muita maquiagem. "Toda garota merece sentir-se bonita do jeito que ela é", diz a mensagem no final da propaganda, numa tentativa de reverter um pouco os males da lavagem cerebral feita por anos e anos pela publicidade.
Portanto, por todos esses motivos descritos ao longo desse texto, é que precisamos reconhecer e aceitar o nosso corpo e a nós mesmas da maneira que somos, com nossos defeitos e qualidades, e não passar a vida inteira almejando por algo inalcançável, e que, de uma forma ou de outra, é pura ilusão, pois como diz Tommaso, psicólogo e psicoterapeuta que já atendeu mais de mil modelos, "Não adianta todo mundo querer ser como a Gisele Bündchen, ela é uma exceção". E, afinal, a única coisa que conta é a 'embalagem'? Será que o conteúdo e a essência não são mais importantes?
Assista ao video da campanha Dove pela Real Beleza
Por Kika Novaes - Designer de Moda e Stylist